Io sono Palestra Itália (Palmeiras, 97 anos de glórias)

As pessoas têm coisas em comum: religiões, partidos, amigos, trabalho. Na religião buscam deuses e resolução de problemas, nos partidos idem. Nos amigos buscam conforto, companhia, dinheiro emprestado. No trabalho, a grana, o leite das crianças.

Mas o que as pessoas têm em comum para se declararem torcedoras de um determinado time de futebol, quando este, muitas vezes, só lhes aumentam a tristeza por décadas? Imagine um pequeno palmeirense de 11 anos de idade. Que motivação terá a pequena criança para se autodeclarar torcedora do Alviverde? Não é obrigação, não é lucro, não é resolução de problemas, não é leite das crianças. Também não é companhia, pois a tarefa de torcer é, em alguns momentos, demasiado solitária, não é, meu caro torcedor da Portuguesa?

Dou aula numa sala com uma média de 35 alunos. E lá vivem dois solitários palmeirenses, que compartilham a esperança de verem o que nunca viram nessa sua curta vida a cada partida. Chegam animados a me perguntar a cada semana: “Viu o chute no vácuo, fessô?”, “E o Luanel Messi, ein? Zika!”. Fico imaginando que motivos têm essas crianças para gostarem tanto de algo que nem notas pra passar de ano lhes garante.

Recorro à religião, a enciclopédia do inexplicável, para tentar associar tal comportamento aos dos beatos. Mas percebo logo incoerência: na religião buscam o impossível, pedem por coisas que sonham, acreditam n’algo superior. Mas o futebol não é tão superior, está ali, todo dia, até na toalha em que nos enxugamos e na meia que vestimos. Nada tem de divino.

Será então o quê, meus amigos, que une essa torcida alviverde, constante, viva, rouca de gritar pelo time, mas que não se cala; cansada de lotar as arquibancadas e incansável em lotá-las? Qual razão, qual motivo, qual ganho, qual lucro, qual benefício? Nenhum! Apenas ser palmeirense.

Parabéns, Palmeiras, pela história de 97 anos e pela vindoura eternidade!

Io sono Palestra Itália!

Por Thiago Bomfim